terça-feira, 26 de março de 2013

“Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo” – Is 53.10




           Vai chegando a Páscoa e uma coisa é certa: vêm filmes sobre Cristo por aí. Alguns canais televisivos, ao longo desses dias, provavelmente, exibirão algum tipo de programação relacionada à vida e obra de Cristo. Sem levar em conta as motivações para essas exibições (questionáveis, muitas vezes), há um enorme perigo nessas reproduções, pois dificilmente elas trazem a profundidade do dado bíblico revelado.
O maior problema de se tentar reproduzir histórias bíblicas através de meios televisivos, como seriados, filmes, documentários, entre outros, é que nem sempre se consegue reproduzir a mensagem do texto em questão, que é única. Independente dos motivos (ignorância teológica, pretensões midiáticas, etc.) que levam a obra cinematográfica a “errar” a ênfase do texto ou a não atingir a profundidade necessária, o prejuízo causado para a fé é enorme.
A fé se embasa, estritamente, na mensagem pura do texto, relacionada com o contexto imediato e com toda a Escritura. Assim se constrói os pilares dela, que são as doutrinas. Qualquer reprodução visual de textos bíblicos que não leve em conta essa mensagem, estrita e ampla, que o próprio texto explicita, está prejudicando o telespectador no conhecimento da Escritura. Esse, comumente, é o caso do episódio da crucificação de Cristo.
            Ao longo dos anos, houve várias reproduções cinematográficas sobre a vida e obra de Cristo. Com certeza, a mais marcante delas foi o filme A Paixão de Cristo (EUA 2004), dirigido por Mel Gibson. O filme enreda os últimos momentos de Cristo, a partir do episódio do Getsêmani. A ênfase do autor é clara: mostrar, sem censura, os sofrimentos físicos que Cristo vivenciou.
Há relatos de pessoas que, ao verem as fortes cenas de Cristo apanhando, choraram muito. Algumas até passaram mal. Há quem diga que, nos EUA, um pastor faleceu ao ver o filme. Mas será que a mensagem da cruz se reduz somente a um aspecto: dó de Cristo sofrendo pela tortura física? Será que é esse o cálice que Cristo não queria beber (Mt 26.39)? A dor dos pregos, cravos e espinhos? É a isso que se reduz a mensagem do Evangelho? Produzir nas pessoas um sentimento de pena e comoção porque Cristo sofre fisicamente?
Não se pode menosprezar o sofrimento físico de Cristo. Ele foi o meio usado para que se cumprisse a obra de salvação. Muitos de nós não temos a mínima ideia do que é ser torturado. Ainda mais morrer crucificado. Talvez, jamais saibamos o que é sofrer fisicamente por amor a Cristo. Porém, não é essa a ênfase que a Bíblia revela quando mostra Jesus questionando a Deus o porquê do desamparo (Mt 27.46). É algo muito mais profundo. É mais do que, simplesmente, querer anestesiar a dor.
Há relatos de cristãos da igreja primitiva que foram crucificados de cabeça para baixo, jogados aos leões, feitos como tocha para iluminar cidades, esquartejados, decapitados, enforcados, desmantelados, enfim, brutalmente assassinados (1Pe 5.9). Esses mesmos suportaram todos esses sofrimentos por amor a Cristo. E acreditem: muitos morreram honrados porque estavam tendo o privilégio de sofrer por Cristo. Eles, na verdade, nem se achavam dignos de sofrer por Cristo. Era demasiada honra para eles.
Então, a dúvida que paira é: muitos discípulos de Cristo não tiveram medo da perseguição e permaneceram fiéis até o fim. Suportaram imensas dores e a morte por amor a Ele. Será que Cristo, o inspirador desses mesmos cristãos, o autor e consumador da fé deles, o capitão desse navio chamado Evangelho, estava com medo de pregos, espinhos e açoites? Será que a sua profunda angústia, a ponto de suar sangue (Lc 22.44), foi por causa dos maus tratos físico que Ele teria de suportar?
            A profunda angústia de Cristo não está nos pregos. Também não está nos açoites. Muito menos na coroa de espinho. Não é o sofrimento físico porvir que O faz orar intensamente. O que faz Cristo sofrer é o peso da ira de seu Pai sobre Ele. Essa é a ênfase bíblica: Deus pai quebrando seu filho, Jesus, na cruz, para salvar pecadores. Essa é a mensagem não envernizada pelo romantismo televisivo. Esse é o Evangelho.  
Jesus sente todo o peso da ira de Deus na cruz do calvário. Jesus, por amor à vontade de seu Pai, bebe cada gota daquele amargo cálice. Jesus é moído na cruz por causa das nossas transgressões e das nossas iniquidades (Is 53.5). Ele é quebrado por seu Pai para pagar a dívida que era contra nós (Cl 2.13,14). E Ele paga cada centavo dessa dívida. Ele crava na cruz a nossa condenação. Ele mesmo doa a sua vida em resgate de muitos, saciando assim a justiça de Deus.
           É preciso mais que filmes comotivos. É preciso mais que cenas que promovam uma tristeza imediata, porém passageira no telespectador. É preciso mais que dó. É preciso arrependimento. Para isso, é necessário que o Evangelho seja pregado na sua pureza, na sua simplicidade, porém com a profundidade que lhe é característica. A cruz é um choque. Um escândalo. Mistério profundo. Porém, poder de Deus para salvar pecadores. Isso dificilmente (para não dizer que é impossível) alguma obra cinematográfica conseguirá reproduzir.
Prefira a Palavra à televisão. Troque o filme pascal por uma boa meditação com a família. Delicie-se com a mensagem salvífica dos profetas. Emocione-se com os impressionantes relatos dos Evangelistas. Invista tempo na Palavra e veja o que realmente Cristo sofreu por você na cruz. Veja o preço que foi pago, muito além dos cravos e espinhos. Um Pai que esmaga e mói seu Filho para que pecadores, merecedores da condenação eterna, pudessem desfrutar, eternamente, de sua bondade.

Eron Franciulli Coutinho Júnior

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