sexta-feira, 10 de maio de 2013

Você Não Precisa de Respostas

“Jó, ainda que dizes que não o vês, a tua causa está diante Dele; por isso, espera Nele.”

De repente, seu mundo desabou. O que você temia lhe sobreveio. Uma trágica surpresa. Sua cabeça ainda tenta entender alguma coisa em meio ao caos, mas ela mais parece um sistema em pane. Desnorteada. Dentro do peito, um buraco vazio. Um enorme buraco. Literalmente. Tudo aconteceu muito rápido, sem que você ao menos percebesse. Coisas que estavam fora do seu controle. Fora do seu alcance. E agora? Martela a dúvida.
Um pouco mais de reflexão (ou de angústia?) e as constantes dúvidas começam dar lugar a outra, agora bem maior. Mais séria também. Profunda. É só questão de tempo até que ela consuma você. Até que ela não saia mais da sua cabeça. Até que ela devore seus sonhos e tente destruir toda a sua esperança. Até que ela sugue cada gota do que ainda resta da sua pequena energia. Onde está Deus? Ela grita em alto e desesperado som. Não tem como não ouvi-la.
Você orou muito. Pediu insistentemente. Arrazoou com Ele sobre os fatos. Suplicou para que Ele revertesse toda aquela situação, mas a sensação é que Ele sequer ouviu uma palavra. Não houve respostas. Nada. Tudo em silêncio. A única vontade que restou foi a de desistir. Se não fosse por algumas coisas que prendiam você... Ah... O balde tinha entrado no ângulo. E sem bater na trave. Seria um golaço. Digno de uma placa.
Agora, você se sente como um nada. Sozinho e perdido. Essa situação escancarou sua pequenez. Desmascarou sua incapacidade. Revelou sua falta de controle sobre a sua própria vida e sobre a vida de seus próximos. Mostrou que toda a sua segurança nas coisas desse mundo não era nada. E, acima de tudo, o fez enxergar sua falta de controle sobre a vontade e os propósitos de Deus. Coisas que você até sabia, mas não as enxergava. Agora, você as vê. E que dor essa visão. A visão da realidade.
Falta-lhe fé. Sobra-lhe frieza e apatia. Você se tornou um típico humano pós-moderno. Desiludido, relativista, desacreditado. Desesperado. Só que o alvo dessa desilusão não chama ciência. Tem outro nome. Deus.
O problema do mal é um assunto arduamente discutido, seja no mais alto debate teológico ou na mais humilde conversa entre cristãos. Seja em um enorme livro ou na simples conversa entre os cônjuges antes de dormirem. Todos em busca de uma resposta. Algo que preencha o vazio ocupado pela tenebrosa dúvida. Uma solução, por favor!
Ficar sem saber o porquê do sofrimento é algo extremamente doloroso. Em certa medida, é desesperador. A única coisa pior que a dor experimentada pelas aflições é a implacável dúvida a respeito do amor de Deus. A respeito dos seus propósitos. A respeito do seu modo de fazer as coisas. Porque Ele permitiu que tudo isso acontecesse?
Geralmente, na busca de uma resposta para o problema do mal, Deus tem sido diminuído. Ora em seu poder, ora em sua bondade. De todo jeito é ruim.  De todo jeito as respostas não satisfazem.
De um lado, alguns dizem: Deus é bom. Certo. Porém, o mal existe. Está claro isso. Nem precisa ligar a TV para saber. Então, a conclusão óbvia é uma só. Se Deus é bom e o mal existe, Ele não pode ser onipotente. Ou seja, sendo totalmente bom Ele deveria eliminar a maldade da criação. Se não o faz é porque lhe falta poder. Falta-lhe força para isso.
Por outro lado, outros dizem: Deus é poderoso. Certo também. Porém, o mal continua existindo. Então, usando a lógica, se Deus é poderoso e o mal existe, logo Ele não deve ser tão bom assim. Ou seja, tendo Ele total poder e força, deveria eliminar o mal, porém se não o faz é porque não quer. Falta-lhe bondade.
Fato é: as duas alternativas definem a Deus. Ou Ele é um fraco bondoso, ou um tirano poderoso. Não há uma terceira opção. O triste é perceber que, muitas vezes, cristãos pensam assim. Talvez não declarem explicitamente isso, mas no intimo é exatamente isso que se passa. Ora minimizando o poder de Deus, ora minimizando a sua bondade. Talvez, ficar sem resposta alguma seja melhor que ter essas. Talvez, não. Com certeza.
Contudo, sendo a Bíblia a revelação especial de Deus, é imprescindível deixar que ela mostre a verdade. Seriam algumas dessas duas opções a descrição bíblica sobre Deus? Bom e fraco? Ou, poderoso e tirano? Realmente, essa lógica descrita acima confere com a revelação de Deus na Palavra? Se não, como, então, a Escritura O revela?
Primeiro, ela revela que Ele é totalmente bom. Ele é luz. Nele não há trevas (1Jo 1.5). Segundo, ela revela que Ele é totalmente poderoso (Is 40.26, Ap 1.8, Jr 32.27, Jó 42. 2, dentre muitas outras). Então, como lidar com o problema do mal? Onde se encaixa nessa história a maldade que claramente é vista presente na realidade? Se Deus é bom e poderoso, porque o mal existe?
A única forma de lidar com essa questão sem deturpar o ensino das Escrituras e nem minimizar ou a bondade ou o poder de Deus é aceitar que Deus tem propósitos que ao homem não foi revelado (Dt 29. 29). Ou seja, nós não sabemos a resposta. Não sabemos como Deus administra essa questão. Só sabemos que Ele tem a capacidade de usar o mal para fins justos, santos e bons sem que isso macule sua santidade. Sem que isso denegrida seu ser.
Isso não significa que a fé de um cristão, que aceita e acredita nessa verdade bíblica, seja irracional, nem que ele é ignorante em sua razão. Isso significa acreditar que Deus é infinito em si mesmo e que há uma diferença não só quantitativa, mas qualitativa entre os pensamentos e os caminhos de Deus e os pensamentos e os caminhos do homem (Is 55. 8,9).
Nenhum homem pode encaixotá-Lo com sua filosofia. Nenhuma ideia pode enquadra-Lo com sua argumentação lógica. Nenhuma teologia pode defini-Lo completamente em seu ser e em seus atributos. Não se pode sondar a sua grandeza. Quem conheceu a mente Dele? Quem O ensinou? Ou com quem Ele tomou conselho? (Is 40. 13,14)
Aceitar a revelação de Deus dessa forma, totalmente bom e onipotente, é o caminho para uma confiança em Deus além das circunstâncias. Uma confiança genuína que não se embasa nas experiências dolorosas da vida para tentar definir o que Deus é ou deixa de ser, antes aceita por fé o que a Palavra revela sobre Ele.
O cristão, ao contrário do que geralmente acredita, não precisa de respostas para os seus sofrimentos. O cristão não precisa de explicações da parte de Deus sobre como Ele governa o mundo. Deus não precisa justificar ao homem o porquê de cada propósito. O porquê do jeito como Ele dirige o universo. O que o cristão precisa é enxergar a grandeza de Deus e confiar Nele. A grandeza Dele é suficiente para eliminar qualquer dúvida. O livro de Jó incumbe-se de expor essa verdade.
Jó não sabia por que estava sofrendo. Não havia “motivos” para tudo que lhe acometia. Na verdade, se o autor, devidamente inspirado por Deus, não contasse os motivos no início da narrativa, ninguém saberia. Porém, ao final do livro, fica evidente que o motivo do sofrimento de Jó é o que menos importa. Diante da grandeza de Deus e da sua majestade em governar cada detalhe do universo, mesmo os mínimos, descritos a partir do capítulo 38, Jó declara: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos podem ser frustrado” - (Jó 42. 2).
Como Deus fez Jó, antes revoltado e indignado, implorando por um tribunal com o próprio Deus, clamando por “justiça” entre as partes, aquietar seu coração e confiar Nele? Explicando a ele os motivos de seu sofrimento? Dando a ele as tão exigidas respostas às perguntas descritas ao longo do livro? Explicando detalhadamente a Jó como seus decretos foram elaborados na eternidade e como eles funcionam? É certo que não.
O que Deus fez foi somente mostrar a Jó quem Ele é. Ele mostra toda sua grandeza, todo seu poder e toda sua majestade diante daquele que fala do que não sabe. Daquele que abre a boca para reclamar sem conhecimento de nada. Ele não responde uma pergunta sequer a Jó. Antes, Ele diz: “Quem é este que escurece meus desígnios com palavras sem conhecimento?”. - (Jó 38. 2).
Deus em nenhum momento diz a Jó o que ele queria saber, porém disse a ele como seu poder sustenta toda a realidade criada. Como não há nada que Lhe escape aos olhos. Como não há nada que Lhe passe despercebido. Como Ele é grande em força e em poder.
O grande aprendizado no livro de Jó é esse: nós não precisamos que Deus nos explique seus planos e propósitos para confiarmos Nele. Ele não precisa pedir permissão a nós para executar seus decretos. Ele não precisa da nossa aprovação para fazer sua vontade. Nós precisamos, assim como Jó, ter os olhos abertos para vê-Lo. Ver sua grandeza. Então a pergunta certa a ser feita não é “por que”, e sim “como”. Como confiar em Deus em meio ao sofrimento? Como acreditar em Sua bondade quando tudo em volta mostra justamente o contrário? Como, então, vê-Lo?
A única e totalmente suficiente resposta para essas perguntas é: olhando para cruz. A questão é: quais são os motivos pelos quais nós devemos confiar em Deus em meio ao sofrimento? Pois bem, se a questão é claramente essa, a resposta é igualmente clara: porque a bondade de Deus foi escancarada na cruz.
Lá, através de um sofrimento infinitamente maior que qualquer ser humano possa imaginar, ficou clara a bondade de Deus para com seus filhos. Não há dúvidas. Deus demonstrou seu amor quebrando seu filho na cruz para pagar a dívida de pecadores. Se Deus não poupou seu único filho para salvar os seus, o que mais necessitariam eles que Deus não os daria?
Em meio ao sofrimento, a nossa única alternativa é confiar que Deus sabe o que faz. Ainda que não entendamos nada do que está acontecendo Ele é digno da nossa confiança. A cruz escancarou isso. Nela nós vemos tanto a bondade quanto o poder de Deus em sua plenitude.
Não há resposta para nosso sofrimento, muitas vezes. Mas isso não significa que não há paz. Não significa que não há consolo. Em Cristo nós encontramos a esperança que precisamos para viver. Em Cristo nós sabemos que todas as coisas cooperam para o nosso bem. Até as piores. Em Cristo nós vemos o amor que, irresistivelmente, nos faz confiar. O amor que, graciosamente, nos faz descansar. O amor que nos faz enxergar a grandeza de Deus.

Eron Franciulli Coutinho Jr

terça-feira, 26 de março de 2013

“Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo” – Is 53.10




           Vai chegando a Páscoa e uma coisa é certa: vêm filmes sobre Cristo por aí. Alguns canais televisivos, ao longo desses dias, provavelmente, exibirão algum tipo de programação relacionada à vida e obra de Cristo. Sem levar em conta as motivações para essas exibições (questionáveis, muitas vezes), há um enorme perigo nessas reproduções, pois dificilmente elas trazem a profundidade do dado bíblico revelado.
O maior problema de se tentar reproduzir histórias bíblicas através de meios televisivos, como seriados, filmes, documentários, entre outros, é que nem sempre se consegue reproduzir a mensagem do texto em questão, que é única. Independente dos motivos (ignorância teológica, pretensões midiáticas, etc.) que levam a obra cinematográfica a “errar” a ênfase do texto ou a não atingir a profundidade necessária, o prejuízo causado para a fé é enorme.
A fé se embasa, estritamente, na mensagem pura do texto, relacionada com o contexto imediato e com toda a Escritura. Assim se constrói os pilares dela, que são as doutrinas. Qualquer reprodução visual de textos bíblicos que não leve em conta essa mensagem, estrita e ampla, que o próprio texto explicita, está prejudicando o telespectador no conhecimento da Escritura. Esse, comumente, é o caso do episódio da crucificação de Cristo.
            Ao longo dos anos, houve várias reproduções cinematográficas sobre a vida e obra de Cristo. Com certeza, a mais marcante delas foi o filme A Paixão de Cristo (EUA 2004), dirigido por Mel Gibson. O filme enreda os últimos momentos de Cristo, a partir do episódio do Getsêmani. A ênfase do autor é clara: mostrar, sem censura, os sofrimentos físicos que Cristo vivenciou.
Há relatos de pessoas que, ao verem as fortes cenas de Cristo apanhando, choraram muito. Algumas até passaram mal. Há quem diga que, nos EUA, um pastor faleceu ao ver o filme. Mas será que a mensagem da cruz se reduz somente a um aspecto: dó de Cristo sofrendo pela tortura física? Será que é esse o cálice que Cristo não queria beber (Mt 26.39)? A dor dos pregos, cravos e espinhos? É a isso que se reduz a mensagem do Evangelho? Produzir nas pessoas um sentimento de pena e comoção porque Cristo sofre fisicamente?
Não se pode menosprezar o sofrimento físico de Cristo. Ele foi o meio usado para que se cumprisse a obra de salvação. Muitos de nós não temos a mínima ideia do que é ser torturado. Ainda mais morrer crucificado. Talvez, jamais saibamos o que é sofrer fisicamente por amor a Cristo. Porém, não é essa a ênfase que a Bíblia revela quando mostra Jesus questionando a Deus o porquê do desamparo (Mt 27.46). É algo muito mais profundo. É mais do que, simplesmente, querer anestesiar a dor.
Há relatos de cristãos da igreja primitiva que foram crucificados de cabeça para baixo, jogados aos leões, feitos como tocha para iluminar cidades, esquartejados, decapitados, enforcados, desmantelados, enfim, brutalmente assassinados (1Pe 5.9). Esses mesmos suportaram todos esses sofrimentos por amor a Cristo. E acreditem: muitos morreram honrados porque estavam tendo o privilégio de sofrer por Cristo. Eles, na verdade, nem se achavam dignos de sofrer por Cristo. Era demasiada honra para eles.
Então, a dúvida que paira é: muitos discípulos de Cristo não tiveram medo da perseguição e permaneceram fiéis até o fim. Suportaram imensas dores e a morte por amor a Ele. Será que Cristo, o inspirador desses mesmos cristãos, o autor e consumador da fé deles, o capitão desse navio chamado Evangelho, estava com medo de pregos, espinhos e açoites? Será que a sua profunda angústia, a ponto de suar sangue (Lc 22.44), foi por causa dos maus tratos físico que Ele teria de suportar?
            A profunda angústia de Cristo não está nos pregos. Também não está nos açoites. Muito menos na coroa de espinho. Não é o sofrimento físico porvir que O faz orar intensamente. O que faz Cristo sofrer é o peso da ira de seu Pai sobre Ele. Essa é a ênfase bíblica: Deus pai quebrando seu filho, Jesus, na cruz, para salvar pecadores. Essa é a mensagem não envernizada pelo romantismo televisivo. Esse é o Evangelho.  
Jesus sente todo o peso da ira de Deus na cruz do calvário. Jesus, por amor à vontade de seu Pai, bebe cada gota daquele amargo cálice. Jesus é moído na cruz por causa das nossas transgressões e das nossas iniquidades (Is 53.5). Ele é quebrado por seu Pai para pagar a dívida que era contra nós (Cl 2.13,14). E Ele paga cada centavo dessa dívida. Ele crava na cruz a nossa condenação. Ele mesmo doa a sua vida em resgate de muitos, saciando assim a justiça de Deus.
           É preciso mais que filmes comotivos. É preciso mais que cenas que promovam uma tristeza imediata, porém passageira no telespectador. É preciso mais que dó. É preciso arrependimento. Para isso, é necessário que o Evangelho seja pregado na sua pureza, na sua simplicidade, porém com a profundidade que lhe é característica. A cruz é um choque. Um escândalo. Mistério profundo. Porém, poder de Deus para salvar pecadores. Isso dificilmente (para não dizer que é impossível) alguma obra cinematográfica conseguirá reproduzir.
Prefira a Palavra à televisão. Troque o filme pascal por uma boa meditação com a família. Delicie-se com a mensagem salvífica dos profetas. Emocione-se com os impressionantes relatos dos Evangelistas. Invista tempo na Palavra e veja o que realmente Cristo sofreu por você na cruz. Veja o preço que foi pago, muito além dos cravos e espinhos. Um Pai que esmaga e mói seu Filho para que pecadores, merecedores da condenação eterna, pudessem desfrutar, eternamente, de sua bondade.

Eron Franciulli Coutinho Júnior

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Seria a ignorância um dom?


Ser burro é um privilégio. Não se assuste, porque é isso mesmo: ser burro é um enorme privilégio. Pelo menos é isso que determinado blogueiro defende em um vídeo no seu canal do Youtube. Segundo o mesmo, ser burro é um dom, uma dádiva. Seu argumento principal para tal afirmação consiste no seguinte: quanto menos se sabe sobre as coisas, ou seja, quanto mais elevado for o grau de ignorância de uma pessoa, menos chance ela tem de se aborrecer com a falta de conhecimento dos outros. Menos chance dela se tornar uma pessoa rabugenta e irada pela ignorância alheia. Segundo ele, a burrice é a fórmula da alegria.
Eu até não queria, mas em certo sentido tenho que admitir que existe uma coerência nisso. Admito, não porque ele disse, mas porque muito antes dele sequer pensar nisso, "o Pregador", com uma sabedoria que excede (e muito) a dele, já havia dito: “... na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta a dor” [Ec 1.18]. Esse é o lado ruim de buscar conhecimento: as coisas já não passam tão despercebidas como antes. No início, fica-se crítico, ranzinza. Com o passar do tempo, isso piora bastante.
Daí eu digo: dói olhar para postura do brasileiro frente à política. E como dói. O pior dessa postura nem é a ignorância em si, mas o apego a ela. O amor que alguns, de caso pensado, cativam pela mesma. E isso irrita profundamente. Agora, seria injusto de minha parte não considerar que outros, contra todas as possibilidades, buscam corretamente se instruir. Mas creio eu que estamos falando de uma minoria, infelizmente.  E é por isso que o político brasileiro faz e diz o que quer. Não dá em nada mesmo. Eles devem pensar que o povo brasileiro é ignorante. Baita injustiça, não? Não. É isso mesmo.
Ontem, 07 de outubro de 2012, dia eleitoral em todo país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva presenteou-nos (ou afrontou-nos?) com mais uma de suas “sábias” afirmações. Na tentativa de tirar de foco a maior história de corrupção política do país, que assola o seu amado partido (PT), ele disse: “O povo não está preocupado com isso (mensalão). O povo está preocupado se o Palmeiras vai cair e se o Fernando Haddad vai ser eleito”. Para quem não acredita, ta aí: (Clique aqui para ver a matéria).
Dá até tremedeira ouvir algo desse tipo. E não é pelo Palmeiras estar avistando a segunda divisão. Parafraseando o Rev. Fabiano Oliveira de Almeida, “só existe uma coisa pior do que o cinismo e a falta de ética do Lula: é saber que no fundo ele pode ter razão”. Até que me provem o contrário (e como eu espero por isso), acredito que ele acertou. A tremedeira é por isso: saber que o brasileiro, de um modo geral, prefere seu time de futebol à política. Prefere qualquer outra coisa à pesquisar e cobrar o político que ele mesmo votou nas eleições passadas. Prefere ouvir esse tipo de ofensa a sua inteligência à mostrar nas urnas para o Sr. Lula quem realmente é o ignorante dessa história. Prefere rir do Palmeiras enquanto o único com uma inteligência de segunda é ele mesmo.
 Dizem por aí que existe outra fórmula para a felicidade. Além da falta de conhecimento, como já vimos, se esquecer rápido das coisas também deixa a vida mais feliz. Menos aborrecimentos para se carregar. Então, baseando-me na sabedoria popular, declaro as razões de o povo brasileiro ser tão alegre: ignorância e a memória curta. A pergunta que fica é: melhor não seria sermos tristes, então?

Eron Franciulli Coutinho Júnior

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Deus é bom?



Fico preocupado quando ouço alguém dizer que Deus é bom. Não que Ele não seja, mas porque geralmente essa frase vem acompanhada de uma “boa” justificativa. “Deus é bom, porque me curou”, ou “Deus é bom, porque eu fui efetivado na empresa”, ou ainda “Deus é bom, porque eu comprei meu carro novo”. E por aí vai. Até entendo a alegria e a possível gratidão que move o coração das pessoas a dizerem esse tipo de coisa, porém isso pode ser perigoso. Suponha que o tão esperado desejo não se realize. Conclui-se, então, que Deus não é bom? É aí que mora o perigo. O reducionismo que se faz da bondade de Deus à mera experiência.
O problema não é dizer que Deus é bom. O problema é a justificativa que se usa para isso. É correto dizer, mas não pelo fato de ter as vontades e os desejos saciados. Deus é bom porque é. Sua bondade não precisa ser justificada por homens. Deus é bom no sentido que a Escritura diz que é e não no sentido que a experiência mostra, seja ela boa ou ruim. Deus é bom pelo carro novo. É bom pela cura tão esperada. Também é bom pelo emprego desejado. Mas Ele continua bom caso a cura não aconteça, caso o emprego não venha, caso o sonho do carro novo nunca se realize. Não é a experiência que diz o que Deus é. É a sua Palavra e somente ela.
Mesmo não florescendo a figueira, não havendo uvas nas videiras; mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral, nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação”. Parece que o profeta Habacuque entendeu a bondade do Deus que salva. Bondade que foi emplacada na cruz do calvário. Bondade que resgata pecadores merecedores do inferno e os faz aceitos como filhos de Deus. Bondade plenamente revelada em Jesus Cristo. E nós, entendemos? 

Eron Franciulli Coutinho Júnior

terça-feira, 20 de março de 2012

Nem mosquito, nem camelo.

Vagueando por algumas redes sociais e por alguns blogs, percebi uma certa inquietação de algumas pessoas que se denominam religiosas. Essa, com relação ao moderno estilo de luta chamado UFC, a sensação do momento. Também dialogando com outras pessoas verifiquei posicionamentos de diversos tipos com relação ao assunto. De fato, é tenso mesmo. Gera muito debate. É certo? Não é? Fere princípios bíblicos? Cristãos devem ver? Torcer? Praticar? E por aí vai. É literalmente um “senta que lá vem a história” e é só o começo dela.
Não quero entrar nos pormenores e muito menos sentenciar o assunto. Até poderia tentar, à luz do que a Palavra diz, mas não é esse o caso no momento. Evidenciar pecados enraizados na cultura não é uma tarefa fácil. Exige muito estudo e muito cuidado. Pior ainda é tentar evidenciar um que está mascarado de esporte. Aí é dor de cabeça na certa. Como dizia minha avó: “é pano pra manga”. O que pretendo então é usá-lo como ilustração para apontar uma das facetas do cristianismo brasileiro.
Se alguém ainda não sabe o que é o UFC (Ultimate Fighting Championship), o que é bem improvável, aqui vai: sendo simplório, o UFC é um esporte de luta. Se podemos chamá-lo de esporte ou não é outra questão, mas enfim, é um “esporte” de luta com vários tipos de artes marciais misturadas. Dentro de um ringue, denominado octógono, dois lutadores se enfrentam. O que conseguir vencer o outro, de acordo com as regras da competição, é eleito o vencedor do combate.
Seu nome popular é “vale tudo”, mas o engraçado é que não vale tudo! Joelhada no nariz vale. Murro na barriga também. Estrangulamento? Ótimo! Melhor ainda quando o adversário “apaga”. Aí é show! Agora, quando o adversário estiver no chão, não vale chutar a cabeça. Tem que ser bonzinho. Tem que ter respeito. Joelhada nas partes baixas também não vale. É crueldade. Enfim, de várias regras são feitas o UFC. Incoerentes ou não, é assim que é, e você trate de consumir senão quiser ser taxado de obsoleto.
O papel do público é torcer para que “a pancadaria coma solta”. Sem sangue jorrando, como diz um bom mineiro, “o trem fica sem graça”. Fraturas, nocautes, desmaios; a galera vai ao delírio. Tudo isso é igual a muita vibração, muita empolgação e, consequentemente, muita grana na parada. Aliás, esse é um ponto interessante. Olhar o aspecto econômico e ver como se dá essa relação seria importante, mas deixe pra lá. Só vai perceber isso quem quer e a grande verdade é que, na maioria das vezes, nós não queremos enxergar. Para não perdermos a diversão do entretenimento sanguinário nós fazemos vista grossa. Veja que eu nem citei as “ring girls”. Melhor assim. Deixe pra lá também.
Feita as ponderações, vamos ao que interessa. É engraçado ver como essas mesmas pessoas que hoje criticam o UFC, antigamente vibravam com o boxe. “Como foi bom ver Mike Tyson sendo derrubado por Holyfield”, dizem elas. “Muhammad Ali então, nem se fala. Dava gosto de vê-lo lutar. Era o Pelé do ringue”. Todas elas citam de cor: “voar como borboleta, ferroar que nem uma abelha”. Rock Balboa está na estante da sala de suas casas como um troféu. A maioria dessas pessoas eram fãs assíduos e consumidores compulsivos do boxe, mas do UFC não. Porque UFC não pode. UFC é mau. É cruel. Engraçado isso, não é?
Será que sou só eu que estou embasbacado com tamanha incoerência? Afinal, o que faz do boxe um “esporte” de pessoas boas e do UFC um “esporte” de pessoas ruins? A falta de sangue? Ou porque não tem estrangulamento? Ou seria a falta dos chutes? É porque a luva de boxe é mais “fofinha”? Já sei! É que no boxe não valia joelhada. Só pode ser isso.
É engraçado ver que esses críticos agem com um falso moralismo que a Palavra não apoia. É o cristianismo do “côa o mosquito e engole o camelo”. Onde eu quero chegar com isso: se UFC é errado, boxe também é. As bases do esporte são as mesmas: violência. Ainda que as regras sejam diferentes quanto ao que se pode ou não, os dois partem do mesmo princípio: através da violência física derrotar o adversário. Violência é violência, meu caro. Mesmo que ela esteja legalizada pela consciência social e mascarada por uma filosofia esportiva, ela não deixa de ser violência.
Enquanto escrevo me vem à mente a doce, mansa e sempre pertinente fala de Cristo: “... aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração”. Ah! Mas no esporte não vale. Esporte é esporte! Tem nada a ver isso. Será que não? Será que devemos suspender alguns princípios bíblicos para nos saciarmos com as delícias do “esporte”? Interessante ver como o UFC ou o boxe nos ajuda a aprendermos mais de Cristo, não é? Na minha sincera opinião, não.
Agora sim tem pano pra manga de verdade. É discussão pra mais de metro. Já consigo ver a cara de alguns me chamando de fundamentalista. Então, para não me perder em tamanha discussão, voltarei ao propósito do texto que é usar isso apenas como ilustração.
A minha crítica a essas pessoas é a incoerência delas em avaliar as situações pelas atitudes exteriores. Querem medir o que é errado ou não pelo que se vê. Como se fizesse diferença sair sangue ou não. Isso não é bíblico. Pensar assim é pensar como um fariseu. Justamente aqueles a quem Jesus os chamou de hipócritas. Forte, não? Minha preocupação é se não temos feito o mesmo.
Muitas vezes temos baseado nosso cristianismo nas atitudes exteriores. Não que elas não façam parte dele, porém elas são somente a consequência daquilo que vai no nosso interior. Quantos de nós aceitamos certas atitudes como pecadinhos tranquilos e “domesticáveis” e outras como pecados mais sérios. É assim mesmo. Queremos "fazer" cristianismo segundo o que achamos e não segundo a Escritura. Mentir é light, tranquilo, mas matar é coisa séria. Olhar de leve, com o “rabo do olho”, é normal, faz parte, mas adulterar é inconcebível. E segue nessa linha. Não estou dizendo que as consequências dos pecados sejam iguais. Realmente não são. Agora, a partir daí praticarmos certas atitudes porque elas não causam tanto dano assim, porque elas usam “luvas fofinhas” ou porque elas não “tiram sangue”, aí já é outra história. O inferno é a prova máxima do dano que causa. É bom abrir o olho. Nas palavras de Jesus, melhor ainda seria arrancá-lo fora.
Esqueça se sai sangue ou não. Esqueça se vale chute ou não. Se com luva pode ou não. Pare de focar no exterior. Foque no principal. Como glorifico a Deus com minhas atitudes? Como fico mais parecido com Cristo? Como faço pra ser luz no mundo? Não coe o mosquito e engula o camelo. Coe os dois. Coe tudo. Não engula nada. Somente a Palavra de Deus e o que ela ensina. Isso sim! Saboreie com vontade e aprecie sem moderação.


Eron Franciulli Coutinho Júnior.