segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Seria a ignorância um dom?


Ser burro é um privilégio. Não se assuste, porque é isso mesmo: ser burro é um enorme privilégio. Pelo menos é isso que determinado blogueiro defende em um vídeo no seu canal do Youtube. Segundo o mesmo, ser burro é um dom, uma dádiva. Seu argumento principal para tal afirmação consiste no seguinte: quanto menos se sabe sobre as coisas, ou seja, quanto mais elevado for o grau de ignorância de uma pessoa, menos chance ela tem de se aborrecer com a falta de conhecimento dos outros. Menos chance dela se tornar uma pessoa rabugenta e irada pela ignorância alheia. Segundo ele, a burrice é a fórmula da alegria.
Eu até não queria, mas em certo sentido tenho que admitir que existe uma coerência nisso. Admito, não porque ele disse, mas porque muito antes dele sequer pensar nisso, "o Pregador", com uma sabedoria que excede (e muito) a dele, já havia dito: “... na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta a dor” [Ec 1.18]. Esse é o lado ruim de buscar conhecimento: as coisas já não passam tão despercebidas como antes. No início, fica-se crítico, ranzinza. Com o passar do tempo, isso piora bastante.
Daí eu digo: dói olhar para postura do brasileiro frente à política. E como dói. O pior dessa postura nem é a ignorância em si, mas o apego a ela. O amor que alguns, de caso pensado, cativam pela mesma. E isso irrita profundamente. Agora, seria injusto de minha parte não considerar que outros, contra todas as possibilidades, buscam corretamente se instruir. Mas creio eu que estamos falando de uma minoria, infelizmente.  E é por isso que o político brasileiro faz e diz o que quer. Não dá em nada mesmo. Eles devem pensar que o povo brasileiro é ignorante. Baita injustiça, não? Não. É isso mesmo.
Ontem, 07 de outubro de 2012, dia eleitoral em todo país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva presenteou-nos (ou afrontou-nos?) com mais uma de suas “sábias” afirmações. Na tentativa de tirar de foco a maior história de corrupção política do país, que assola o seu amado partido (PT), ele disse: “O povo não está preocupado com isso (mensalão). O povo está preocupado se o Palmeiras vai cair e se o Fernando Haddad vai ser eleito”. Para quem não acredita, ta aí: (Clique aqui para ver a matéria).
Dá até tremedeira ouvir algo desse tipo. E não é pelo Palmeiras estar avistando a segunda divisão. Parafraseando o Rev. Fabiano Oliveira de Almeida, “só existe uma coisa pior do que o cinismo e a falta de ética do Lula: é saber que no fundo ele pode ter razão”. Até que me provem o contrário (e como eu espero por isso), acredito que ele acertou. A tremedeira é por isso: saber que o brasileiro, de um modo geral, prefere seu time de futebol à política. Prefere qualquer outra coisa à pesquisar e cobrar o político que ele mesmo votou nas eleições passadas. Prefere ouvir esse tipo de ofensa a sua inteligência à mostrar nas urnas para o Sr. Lula quem realmente é o ignorante dessa história. Prefere rir do Palmeiras enquanto o único com uma inteligência de segunda é ele mesmo.
 Dizem por aí que existe outra fórmula para a felicidade. Além da falta de conhecimento, como já vimos, se esquecer rápido das coisas também deixa a vida mais feliz. Menos aborrecimentos para se carregar. Então, baseando-me na sabedoria popular, declaro as razões de o povo brasileiro ser tão alegre: ignorância e a memória curta. A pergunta que fica é: melhor não seria sermos tristes, então?

Eron Franciulli Coutinho Júnior