terça-feira, 20 de março de 2012

Nem mosquito, nem camelo.

Vagueando por algumas redes sociais e por alguns blogs, percebi uma certa inquietação de algumas pessoas que se denominam religiosas. Essa, com relação ao moderno estilo de luta chamado UFC, a sensação do momento. Também dialogando com outras pessoas verifiquei posicionamentos de diversos tipos com relação ao assunto. De fato, é tenso mesmo. Gera muito debate. É certo? Não é? Fere princípios bíblicos? Cristãos devem ver? Torcer? Praticar? E por aí vai. É literalmente um “senta que lá vem a história” e é só o começo dela.
Não quero entrar nos pormenores e muito menos sentenciar o assunto. Até poderia tentar, à luz do que a Palavra diz, mas não é esse o caso no momento. Evidenciar pecados enraizados na cultura não é uma tarefa fácil. Exige muito estudo e muito cuidado. Pior ainda é tentar evidenciar um que está mascarado de esporte. Aí é dor de cabeça na certa. Como dizia minha avó: “é pano pra manga”. O que pretendo então é usá-lo como ilustração para apontar uma das facetas do cristianismo brasileiro.
Se alguém ainda não sabe o que é o UFC (Ultimate Fighting Championship), o que é bem improvável, aqui vai: sendo simplório, o UFC é um esporte de luta. Se podemos chamá-lo de esporte ou não é outra questão, mas enfim, é um “esporte” de luta com vários tipos de artes marciais misturadas. Dentro de um ringue, denominado octógono, dois lutadores se enfrentam. O que conseguir vencer o outro, de acordo com as regras da competição, é eleito o vencedor do combate.
Seu nome popular é “vale tudo”, mas o engraçado é que não vale tudo! Joelhada no nariz vale. Murro na barriga também. Estrangulamento? Ótimo! Melhor ainda quando o adversário “apaga”. Aí é show! Agora, quando o adversário estiver no chão, não vale chutar a cabeça. Tem que ser bonzinho. Tem que ter respeito. Joelhada nas partes baixas também não vale. É crueldade. Enfim, de várias regras são feitas o UFC. Incoerentes ou não, é assim que é, e você trate de consumir senão quiser ser taxado de obsoleto.
O papel do público é torcer para que “a pancadaria coma solta”. Sem sangue jorrando, como diz um bom mineiro, “o trem fica sem graça”. Fraturas, nocautes, desmaios; a galera vai ao delírio. Tudo isso é igual a muita vibração, muita empolgação e, consequentemente, muita grana na parada. Aliás, esse é um ponto interessante. Olhar o aspecto econômico e ver como se dá essa relação seria importante, mas deixe pra lá. Só vai perceber isso quem quer e a grande verdade é que, na maioria das vezes, nós não queremos enxergar. Para não perdermos a diversão do entretenimento sanguinário nós fazemos vista grossa. Veja que eu nem citei as “ring girls”. Melhor assim. Deixe pra lá também.
Feita as ponderações, vamos ao que interessa. É engraçado ver como essas mesmas pessoas que hoje criticam o UFC, antigamente vibravam com o boxe. “Como foi bom ver Mike Tyson sendo derrubado por Holyfield”, dizem elas. “Muhammad Ali então, nem se fala. Dava gosto de vê-lo lutar. Era o Pelé do ringue”. Todas elas citam de cor: “voar como borboleta, ferroar que nem uma abelha”. Rock Balboa está na estante da sala de suas casas como um troféu. A maioria dessas pessoas eram fãs assíduos e consumidores compulsivos do boxe, mas do UFC não. Porque UFC não pode. UFC é mau. É cruel. Engraçado isso, não é?
Será que sou só eu que estou embasbacado com tamanha incoerência? Afinal, o que faz do boxe um “esporte” de pessoas boas e do UFC um “esporte” de pessoas ruins? A falta de sangue? Ou porque não tem estrangulamento? Ou seria a falta dos chutes? É porque a luva de boxe é mais “fofinha”? Já sei! É que no boxe não valia joelhada. Só pode ser isso.
É engraçado ver que esses críticos agem com um falso moralismo que a Palavra não apoia. É o cristianismo do “côa o mosquito e engole o camelo”. Onde eu quero chegar com isso: se UFC é errado, boxe também é. As bases do esporte são as mesmas: violência. Ainda que as regras sejam diferentes quanto ao que se pode ou não, os dois partem do mesmo princípio: através da violência física derrotar o adversário. Violência é violência, meu caro. Mesmo que ela esteja legalizada pela consciência social e mascarada por uma filosofia esportiva, ela não deixa de ser violência.
Enquanto escrevo me vem à mente a doce, mansa e sempre pertinente fala de Cristo: “... aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração”. Ah! Mas no esporte não vale. Esporte é esporte! Tem nada a ver isso. Será que não? Será que devemos suspender alguns princípios bíblicos para nos saciarmos com as delícias do “esporte”? Interessante ver como o UFC ou o boxe nos ajuda a aprendermos mais de Cristo, não é? Na minha sincera opinião, não.
Agora sim tem pano pra manga de verdade. É discussão pra mais de metro. Já consigo ver a cara de alguns me chamando de fundamentalista. Então, para não me perder em tamanha discussão, voltarei ao propósito do texto que é usar isso apenas como ilustração.
A minha crítica a essas pessoas é a incoerência delas em avaliar as situações pelas atitudes exteriores. Querem medir o que é errado ou não pelo que se vê. Como se fizesse diferença sair sangue ou não. Isso não é bíblico. Pensar assim é pensar como um fariseu. Justamente aqueles a quem Jesus os chamou de hipócritas. Forte, não? Minha preocupação é se não temos feito o mesmo.
Muitas vezes temos baseado nosso cristianismo nas atitudes exteriores. Não que elas não façam parte dele, porém elas são somente a consequência daquilo que vai no nosso interior. Quantos de nós aceitamos certas atitudes como pecadinhos tranquilos e “domesticáveis” e outras como pecados mais sérios. É assim mesmo. Queremos "fazer" cristianismo segundo o que achamos e não segundo a Escritura. Mentir é light, tranquilo, mas matar é coisa séria. Olhar de leve, com o “rabo do olho”, é normal, faz parte, mas adulterar é inconcebível. E segue nessa linha. Não estou dizendo que as consequências dos pecados sejam iguais. Realmente não são. Agora, a partir daí praticarmos certas atitudes porque elas não causam tanto dano assim, porque elas usam “luvas fofinhas” ou porque elas não “tiram sangue”, aí já é outra história. O inferno é a prova máxima do dano que causa. É bom abrir o olho. Nas palavras de Jesus, melhor ainda seria arrancá-lo fora.
Esqueça se sai sangue ou não. Esqueça se vale chute ou não. Se com luva pode ou não. Pare de focar no exterior. Foque no principal. Como glorifico a Deus com minhas atitudes? Como fico mais parecido com Cristo? Como faço pra ser luz no mundo? Não coe o mosquito e engula o camelo. Coe os dois. Coe tudo. Não engula nada. Somente a Palavra de Deus e o que ela ensina. Isso sim! Saboreie com vontade e aprecie sem moderação.


Eron Franciulli Coutinho Júnior.